Saulo Moura da Cunha prestou depoimento como testemunha do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura da Cunha afirmou que alertou o Ministério da Justiça e o governo de transição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre os riscos de invasão aos prédios públicos da Esplanada dos Ministérios.

O depoimento ocorreu durante a oitiva de Cunha como testemunha do ex-ministro da Justiça Anderson Torres no processo no qual é acusado pelo Procuradoria-Geral da República de participação em uma suposta tentativa de golpe de Estado.
Segundo o ex-diretor, relatórios de inteligência foram enviados entre os dias 2 e 6 de janeiro, com autorização do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Os documentos informavam a existência de “discursos extremistas” e relatavam que manifestantes portavam armas.
Cunha afirmou que os relatórios foram enviados formalmente ao governo de transição, responsável por coordenar a segurança até a posse completa do novo governo.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) cobrou explicações sobre a ciência do Ministério da Justiça quanto aos alertas. A confirmação do envio dos documentos reforça que a pasta recebeu as informações com antecedência.
Ainda segundo o depoimento, o Distrito Federal só foi avisado no dia 7 de janeiro.
Na mesma data, Saulo Moura da Cunha procurou Marília Alencar, então chefe da Diretoria de Inteligência da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), para compartilhar os dados colhidos pela Abin.
Para a defesa de Anderson Torres, o depoimento de Saulo Moura da Cunha também expõe, de forma indireta, a condução autoritária do ministro Alexandre de Moraes no inquérito sobre os atos de 8 de janeiro.
Mesmo diante das evidências de que o governo de transição recebeu alertas formais da Abin antes da invasão à Esplanada, Moraes concentra as investigações em apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro e em integrantes do governo anterior.